A festa do Santíssimo Crucifixo de Monreale
Tive o privilégio de ver de perto toda esta devoção, é um sentimento muito forte que me envolveu totalmente como se eu já tivesse vivido aquilo muitas vezes.
A festa me chamou tanto a atenção que no ano de 2012 "portei o Crucifixo" além mar, numa mostra fotográfica na Argentina e posteriormente no evento anual "Mia cara Curitiba" realizado pelo Consulado Italiano em parceria com a prefeitura de Curitiba.
Fiz um resumo do que acontece nestes primeiros dias de Maio na pequena e linda cidade de Monreale. As fotos fiz durante a procissão de 2009.
A
lenda e a história do SS. Crucifixo são bem diferentes. A
lenda conta que em torno de 1540, no Mediterrâneo, navegavam dois navios: um
com cristãos das vizinhanças de Palermo, Monreale, Boccadifalco e de Altarello
di Baida, o outro era um navio turco. Dizem que os turcos tinham um Crucifixo
que tratavam de modo muito irreverente. Os marinheiros palermitanos,
escandalizados, decidiram resgatá-lo em troca de uma grande soma em dinheiro.
Retornando
ao porto de Palermo surgiu entre eles a questão: a quem pertencia o Crucifixo.
Com o intuito de resolver tal questão, aqueles homens decidiram colocá-lo sobre
um carro de bois, sem que ninguém os guiasse e onde iriam parar seria erguida
uma igreja que abrigaria o Crucifixo. Assim os bois seguiram para Monreale e
pararam onde hoje é a Igreja do Santíssimo Salvador ou “Collegiata” e de lá não
se moveram mais.
A
história, entretanto, é outra: em torno de 1400, construiu-se a
pequena igreja do Santíssimo Salvador
sede da fraternidade homônima. Mais tarde, esta igreja, tornou-se a sede do
Colégio dos Cânones, fundado pelo Monsenhor Venero e por este motivo é chamada
“Collegiata”. Foi o Monsenhor Venero, então arcebispo de Monreale, a encomendar
o SS Crucifixo à família Gagini, que naquele tempo era famosa em toda a Sicília.
A
confirmação da história dá-se pelo professor Angelo Cristaudo que restaurou o
Crucifixo depois de um incêndio ocorrido em 1º março de 1985. O mesmo já havia
restaurado o Crucifixo de Assoro (Sicilia) cujo autor é Antonello Gagini e percebeu que entre os dois havia uma grande
semelhança. Ressaltando também que eram feitos dos mesmos materiais.
A
festa na realidade desenvolve-se durante os três primeiros dias do mês de maio,
sendo os dois primeiros dedicados exclusivamente ao folclore, desfiles e
concertos musicais. Mas o momento mais importante e que traz à Monreale
milhares de devotos de todas as partes da Sicília, e também de outras regiões
da Itália, é o dia da procissão, 3 de maio, que se prolonga por mais de 9 horas
de extenuante itinerário pelas ruas da cidade,
pelos “fratelli” da Irmandade
do Santíssimo Crucifixo . Há uma
multidão de fiéis que os acompanha, muitas vezes com os pés descalços,
seguindo a cruz. Começando com a tradicional “discesa a spalla”, colocado no andor que levará o pesado
crucifixo pelos íngremes degraus do lado
de fora da igreja. Aí se encontra o
maior painel de cerâmica “faiança” da Itália, que representa o próprio crucifixo
e ali será venerado pelos fiéis e beijado pelas crianças.
Alguns
“fratelli” carregam quatro grandes
coroas de flores que adornarão os lados do andor que é transportado nos ombros
de 40 homens pertencentes à irmandade do Santíssimo Crucifixo. O privilégio é
hereditário e teve início em 1709.
Eles
se vestem de maneira peculiar há mais de
um século: um lenço branco cobre a cabeça, calça e camisa branca com uma fita
vermelha na cintura que segura um lenço branco onde está bordada a imagem do SS
Crucifixo. Os sapatos são facultativos, mas devem ser obrigatoriamente brancos.
O branco simboliza a pureza que deve se aproximar de Cristo e o vermelho,
simbolo do amor e do sangue derramado na cruz.
Às
18h, o som de um sino anuncia o início da longa procissão, pelas ruas da
cidade. À frente da procissão seguem a banda musical e os estandartes das
irmandades extintas, acompanhados sempre por uma ou outra invocação de um dos “fratelli”. Ao final o “fratello” “responsável pela invocação
grita: “ Grazia Patruzzu Amurusu” e
todos os outros em coro respondem “
Grazia”.
Com
a chegada da procissão à praça central, em frente ao Palácio da Cidade
(prefeitura) é à hora da tradicional homenagem: estandartes se inclinam e então
se procede a queima de fogos de artifício. Já de madrugada, quando o crocifisso
retorna para a Igreja, as flores que o adornaram são levadas pelo povo, pois,
segundo a tradição popular, estas flores protegeriam contra desgraças e
doenças."


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